terça-feira, 1 de julho de 2008

Também há Chefes bons...

Na última mensagem ataquei os chefes dizendo que ou eram burros ou engatatões, mas acho que exagerei.
Quero aqui fazer justiça a 3 superiores que tive no Banco ao longo da minha carreira de quem só tenho que dizer bem.E curioso 2 deles até eram considerados muito difíceis.
Falarei em 1º lugar do 1º Chefe que tive no Banco na então Secção de Câmbios , que se chamava Adonis e era uma pessoa recta,alegre e que nos punha à vontade.Eu era a única senhora porque até aí havia poucas mulheres no Balcão e em Secções Operativas.Fui tão bem ensinada que ainda hoje sei tudo o que se faz na área de estrangeiro, com a ressalva que actualmente tudo é feito por computador e naquela altura era tudo à mão ou melhor à máquina.Lembra-me que um dos meus clientes habituais era o D.Duarte Pio, Duque de Bragança, isto no ex-Banco de Angola.
Gostei de estar ao Balcão porque se convive muito com nacionais e estrangeiros e foi um bom estágio para a função a que concorrera-tradutora de francês,inglês e alemão-aliás este ano que lá estive para aprender a terminologia bancária e como eram efectuadas as operações permitiu-me mais tarde na Reclassificação dos Técnicos na União de Bancos Portugueses, ser logo reclassificada 2 níveis acima,por este período ter sido considerado estágio feito.
Depois de ter entrado com o pé direito no Banco,já que fora uma das 3 senhoras licenciadas apuradas num Concurso de mais de 200 concorrentes , nos cerca de 12 anos seguintes fui transferida para a Área Administrativa como Tradutora e penei com os novos Chefes,pois como dizia o Herman "cada cavadela, sua minhoca".Cada um pior que o outro, ignorantes, maldosos, invejosos.Quase desesperei.
Nos últimos anos passei a depender só dos Directores e deles só tenho elogios para um.Era um Director vindo do ex-Pinto de Magalhães para onde entrara menino e que se destacara pela sua inteligência brilhante, a sua competência , mas também pela sua exigência para com ele e os outros.Sem ter concluido os estudos superiores, era no entanto conhecedor profundo das Operações Bancárias quer nacionais, quer internacionais e para mim tinha a maior qualidade que eu poderia encontrar- era aberto a sugestões, gostava de dar cada vez mais responsabilidades a quem ele achava que merecia e ensinava com gosto aquilo que ele dominava.
Chama-se José Eduardo Sequeira e é um pouco mais novo que eu.
No entanto era muito severo para os que faltavam demais, chegavam tarde, ou não produziam.Foi ele que me nomeou Responsável pelas Autenticadoras Swift(uma espécie de Net entre os Bancos)-pelas Chaves telegráficas, pelo Ficheiro Central de Bancos, me deu assinatura pelo banco e carta branca para eu organizar toda a minha área.Ensinou-me além disso a parte contabilística de muitas operações não correntes, por saber que não era a minha especialidade.Encontrei-o há pouco tempo no SAMS, continua a lutar contra uma doença grave e recordo que ainda eu estava a trabalhar há cerca de 12 anos ele ia fazer tratamentos de quimioterapia e voltava para o banco e trabalhava até tarde como se nada fosse.
De aqui um muito obrigada pela forma digna como sempre me tratou.
O último,"last but not the least" a quem gostaria de agradecer é o Dr.António de Almeida,gestor-público, que foi Presidente do Conselho de Gestão do ex-Banco de Angola, vários anos e depois Presidente do Conselho de Administração da União de Bancos Portugueses. Como o outro Director de que falei, era dotado de uma inteligência vivíssima, de uma competência a toda a prova e duma educação esmerada.
Sempre trabalhei em traduções para o Conselho, mas quando era para Presidente ,costumava fazê-las e depois reunia com ele numa mesinha de 3 pés antiga no seu Gabinete e pedia-lhe que me explicasse em português as operações citadas para eu perceber e poder traduzir correctamente.Não há muitos no lugar dele a ajudar como ele me ajudava,a maior parte dos empregados nem tem sequer contacto com a Administração, quanto mais reunir com o Presidente.
Posteriormente quando foi a fusão dos 3 Bancos que deram origem á UBP,entrei na Comissão de Trabalhadores do novo Banco, constituída por 2 elementos de cada ex-Banco maioritariamente licenciados, uns em Direito, outros em Economia, eu em Letras e ligada mais à Organização.
Durante esse período dado que a Sede do Banco era no Porto e eram lá as reuniões com a Administração, viajei mais de 30 vezes para lá, 1º de automóvel, depois de comboio e no fim de avião com os meus colegas.Aprendi muito nessa época-a expor assuntos, sobretudo sociais, especialmente com o Presidente.Ele mesmo ensinava-nos como deveríamos apresentar os problemas à Administração de forma correcta e se possível sem cunho partidário.Ficaram famosas as trocas de argumentos com os elementos do MRPP da Comissão.
Talvez porque estivemos juntos tanto tempo e ele aprendeu a conhecer o valor dos elementos das Comissões, quer a de Trabalhadores, quer a Sindical, muitos de nós fomos colocados no novo Banco nos locais que pretendíamos.
Calculo que ele não deixou de seguir a minha carreira de perto, pois promoveu-me uma 1ª vez quando eu estava em casa pelo nascimento da minha 5ªfilha e outra vez quando nasceu a minha 6ª, enviando-me inclusive um cartão muito amável para a Maternidade.
Ambas as promoções foram consequência das reclamações doutros Técnicos, com menos anos de Serviço, em que ele argumentou que primeiro estávamos nós, os mais antigos.(Os Técnicos só são promovidos por mérito,atenção!).
Só depois de ele sair do Banco soube que era do mesmo Partido que eu , tendo até exercido funções governamentais no Ministério das Finanças.Creio que já esteve à frente da EDP e actualmente já deve estar reformado.Nunca nas nossa reuniões com elementos do PCP,PSD,PS,MRPP ele deu a entender a sua filiação.
Muita da Organização do ex-Banco de Angola, que era um Banco do Estado, foi reproduzida na UBP , já que nos outros 2 bancos a estrutura era quase caótica, havendo quase mais Directores que empregados, com diversas remunerações.
E curioso, por força das fusões viemos a ficar no mesmo Banco, o Presidente do Sindicato dos Bancários, membros da UGT, na altura na Comissão Sindical.Desta época de militância político-sindical guardei imensos amigos que são os únicos antigos colegas a quem trato por tu.Nas viagens, nos hotéis onde pernoitávamos, habituamo-nos a desabafar uns com os outros e havia uma sincera amizade e companheirismo que nunca encontrei no dia a dia no Banco.

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