quinta-feira, 24 de julho de 2008

Um Pai muito fora do comum...








Como prometi vou falar um pouco do meu pai,que morreu há 44 anos de um ataque cardíaco fulminante enquanto dormia,tinha eu 25 anos e 2 filhas na altura.
Este é o Porto da sua cidade Natal onde nasceu em 5 de Abril de 1896.
Pouco sei da sua família apenas que a sua mãe se chamava Kalothetina Galanos e o pai Theófilo Pappamikail.Sempre ouvi falar das irmãs uma Maria que era a mais velha,doutra que morreu com 18 anos e tinha o meu nome e dos irmãos George cuja filha Irene e a neta Argyro vim a encontrar em Londres onde viviam ,aos 15 anos quando estive num Colégio interno e com quem passava alguns fins de semana.Sei que correu vários países incluindo Moçambique até se fixar aqui por volta dos anos 30.Foi Cônsul Geral da Grécia durante a Guerra,numa altura em que não havia ainda Embaixada.Daí que eu tenha a dupla nacionalidade como os meus irmãos,embora não a utilize.Tinha 43 anos quando eu nasci, podia ser meu avô , sempre o conheci mais velho que os pais dos meus amigos, mas a idade dele deu-me sempre um grande sentimento de segurança e a ideia parva de que nunca o perderia.

A história dos meus pais com 18 anos de diferença entre eles, dava um romance com algumas rosas mas muitos espinhos e dado que a minha mãe agora com 93 anos ainda é viva, por uma questão de respeito pela sua privacidade não a contarei aqui.
Ainda tenho algumas recordações dele em diversas ocasiões da minha vida, embora dado que não vivia comigo não serão tantas quanto eu gostaria.
Mas no geral são positivas.Como esta foto por exemplo tirada em 1944 no terraço da casa da Rua Emília das Neves em Benfica ,onde actualmente moro com a minha mãe, muito perto desta rua onde se mantem a moradia.
É actualmente uma Clínica de Cães no r/c, nós morávamos no 1ºandar.
Dizem que sou parecida com ele, que acham?
Lembra-me que em vez de histórias infantis me sentava ao colo e me contava histórias da Mitologia Grega.E não é que as fixei!Sou mesmo barra no assunto.
Nessa altura do campeonato dava-me com as amigas e os seus irmãos, mas quando comecei a crescer acabaram-se os convívios com amigos doutro sexo.

Será que a educação pelos invasores turcos, lhe criou essa mentalidade de ciume doentio em relação às mulheres da família? Ou será que eram costumes atrasados das Ilhas?
Não sei,mas na adolescência, tudo tinha que ser feito às escondidas dele, na perspectiva que ele podia aparecer e zangar-se, com actividades tão inocentes como bailaricos em casa uns dos outros, jogos tipo Monopólio, passeios, convívio na praia.
Foi terrível e levou a que eu me tivesse casado aos 18 anos para me ver livre da prisão e meter-me noutra.

Nunca me faltou com nada, mas nem eu nem os meus irmãos pensámos alguma vez que ele era rico, fruto do seu trabalho, porque a nossa vida era igual à dos outros, com algumas excepções, como termos os primeiros giradiscos que houveram em Portugal, por ter a sua representação , os professores de tudo e mais alguma coisa em casa, as estadias no estrangeiro em Escolas, tendo-me pago, até depois de casada a Estadia de um mês em Bonn na Alemanha na Universidade Local, para aperfeiçoar o meu alemão.

Era assim com a Cultura,um mãos abertas! Tinhamos conta nas Livrarias e comprávamos o que fosse preciso para os nossos estudos.Deu-nos uma educação esmerada, que eu já não pude dar aos meus filhos.Falo no estudo da música, da pintura, dos bordados, da culinária,das línguas(aí também dei a possibilidade aos meus) e eles são quase todos artistas inatos em campos diversos.
Ele mesmo pintava muito bem, desenhava, esculpia e dava-se com toda a boémia de Lisboa no Café Chiado, sobretudo escritores e pintores.

Ajudou a muitos, era muito generoso, pois perdoou dívidas a amigos seus no Testamento que deixou. Teve no seu funeral, muita gente anónima que o conheciam da Baixa onde eram os seus escritórios e lhe deviam favores.

Era um bom patrão, mal sabia ele que a sua herança ia ser desbaratada por um dos filhos deixando os outros sem nada e os seus empregados de muitos anos na rua.Se eu não tivesse o meu emprego no Banco teria ficado sem meios para criar os meus filhos.
Toda uma vida desafogada que o nosso pai planeou para nós e beneficiámos durante alguns anos,foi por,água abaixo ,já que embora tendo recorrido aos Tribunais, nunca vimos até hoje um cêntimo dos nossos bens, desviados para o estrangeiro pelo nosso irmão, entretanto falecido inesperadamente em 1990.

É neste aspecto que lamento que o meu pai não me tenha deixado viver e crescer na altura própria deixando-me vulnerável a um mundo que eu julgava constituído só por pessoas boas.

Essa sua obsessão por nos proteger, teve consequências funestas no futuro, pelo menos para mim, levei anos e anos de auto estima nula,
trouxe-me um divórcio aos 30 anos ,uma relação tempestuosa de cerca de 30 anos com o pai das minhas filha mais novas, e um desconhecimento fatal de como lidar com os homens que me trouxe muitos dissabores.
Em muitas ocasiões senti o quanto ele me fazia falta, não obstante o C.sendo mais velho que eu 10 anos,tenha em parte preenchido essa lacuna.
Querido Pai,nunca te esquecerei...

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Kalymnos,terra das esponjas e berço do meu Pai...





A Ilha de Kalymnos pertence ao Arquipélago do Dodecaneso(12 ilhas)que fica ao Sul do Mar Egeu na Grécia,perto das Costas da chamada Ásia Menor, na actual Turquia.
Rodes,Kárpatos,Kassos,Tilos,Nisyros,Simi,Kos,Leros,
Patmos,Lipsi e Astypalea, são algumas das Ilhas e
mais de 150 ilhotas do Dodecaneso.

Kalymnos é apelidada de "Ilha dos Mergulhadores,Pescadores de esponjas" e "O Paraíso da Escalada do Egeu".














Sobre o meu pai em particular falarei noutra msg,nesta dedicar-me-ei um pouco à história de Kalymnos desde a Antiguidade e como foi o meu contacto com as esponjas através dele, já que nunca visitei a sua Ilha.

Kalymnos na Antiguidade

De acordo com a Mitologia,Urano e Gaia (a Terra) tinham muitos filhos:os Titans,os Gigantes,Os Ciclopes e os Cem-Mãos.Consciente
que um dos seus filhos o destronaria, Urano atirou-os para o fim do Mundo.Um deles era Kalydnos que caiu numa zona que passou a chamar-se Ilhas de Kalydnos.




Hoje todas as Ilhotas tem nome e rodeiam a maior chamada de Kalymnos,mas só 2 Pserimos e Telendos são habitadas.
Os 1ºs habitantes foram os Kares, os Leleges e os Pelasgos.

Seguiram-se os Aqueus que chegaram depois do fim da Guerra de Troia, fundando a cidade de Argos na área de Amfipetres.

Mais tarde os Dórios do Peloponeso estabeleceram-se aqui vivendo em paz com os locais.



Depois das cidades gregas da Ásia Menor serem vencidas pelos
Turcos, Kalymnos foi conquistada por Artemisia, Rainha de Alikarnos e aliada dos Persas.

A Ilha foi membro da 1ªAliança Ateniense apoiando os Atenienses na Guerra do Peloponeso,tendo caído novamente nas mãos de Artemisia e dos Persas.
Ptolomeu, General de Alexandre o Grande, libertou Kalymnos em 333 AC.Durante o Período Helenístico, esteve subordinada a Kós,tendo sido depois conquistada pelos Romanos em 44 AC que retiraram todas as obras de arte e impuseram pesados impostos aos habitantes.

No Período Bizantino (330-1204 DC)a Ilha foi vítima de piratas, Persas e Sarracenos, sofrendo um terramoto em 535 DC que a alterou profundamente.

Em 1306, os Cavaleiros de Rodes,ocuparam a Ilha.Em 1495 foi a vez do feroz Turco Hamza massacrar os locais enquanto Kalymnos foi destruida por outro terramoto.Dez anos depois Vayiezit B atacou de novo mas foi vencido pelos locais com a ajuda dos Cavaleiros.Os Turcos ocuparam a ilha mais uma vez em 1523 DC,bem como as restantes ilhas do Dodecaneso.

Kalymnos,como as outras Ilhas, participaram na Revolução Grega em 1821, mas o Protocolo de Londres(1830) não a incluiu nas fronteiras do Estado Grego.A ocupação turca durou até 1912,data em que foi ocupada pelas tropas italianas.Em 1943 a Ilha foi cedida aos Alemães até 7 de Maio de 1848 data em que foi unificada com a Grécia.

Durante os Séc.XIX e princípios do Séc.XX,Kalymnos lutou para manter a sua própria identidade, proporcionando educação, cuidados de saúde e um Centro literário e cultural. Houve igualmente um período de prosperidade para a Ilha através da Pesca Submarina das Esponjas.

O meu pai nasceu em 5 de Abril de 1896, sendo o mais novo de uma família de mulheres.Pelo costume grego teria que trabalhar para o dote das irmãs, pelo que resolveu fazer-se ao mundo.A nota mais saliente da sua maneira de ser era um intenso patriotismo, uma amor à Grécia imenso que o levou a escrever vários livros sobre a luta atribulada dos Gregos pela sua Independência.Nunca se naturalizou tendo querido levar a bandeira da Grécia sobre o seu caixão.

Era um homem muito culto que falava com facilidade todas as línguas latinas mas fugia das germânicas,mas pude comprovar in loco que efectivamente falava turco e italiano ,já que só em 1948 a Ilha foi entregue à Grécia.Imagino que no liceu teria sido obrigado a falar a língua dos invasores.

Um dos seus primeiros negócios foi o da preparação e venda de esponjas.Hoje em dia, parece um pouco bizarro, já que o sintético reina por todo o lado.Mas as esponjas naturais não tem comparação e são, até mais caras.O meu neto mais pequeno só usa dessas compradas no Minipreço,mas toda a minha vida eu e os meus filhos tivemos esponjas naturais até o meu pai deixar o negócio por outros mais lucrativos.Continuo no próximo...


















domingo, 13 de julho de 2008

A propósito de Clint Eastwood...

Na semana passada e nesta os Canais de Filmes da ZonTvCabo, transmitiram os filmes "Flags of our Fathers" e" Letters from Iwo Jima".Nunca vou ao Cinema, mas vejo imensos filmes em casa, uns óptimos, outros nem por isso.



É opinião consensual que Clint Eastwood foi a maior surpresa das últimas décadas, ao passar do durão dos policiais"Dirty Harry" e do registo dos Western-Spaghetti,para filmes de enorme sensibilidade onde tem aparecido como actor e realizador, desta vez aliado a Steven Spielberg.
Tenho me interessado bastante ultimamente, culpa talvez do "Canal de História" ,por documentários da 2ª Guerra Mundial, não por ser belicista, mas porque afinal eu nasci com ela.

A maior parte dos filmes americanos deste género, focam o lado "aleluia" como diz uma filha minha ,dos americanos, a glorificação desmedida dos seus soldados, em que eles são sempre os bons e os outros os maus, quando sabemos que não corresponde à verdade.Basta os relatos do Iraque e doutras guerras anteriores como a do Vietname.
Mas não serão as Guerras todas iguais na sua brutalidade, nas mortes e chacinas evitáveis?

Clint Eastwood e os autores dos livros onde foram baseados os argumentos dos filmes, revelaram grande coragem ao irem contra a hipocrisia do seu país.

Para quem não viu os filmes,estes relatam a tomada da Ilha de Iwo Jima pelos americanos focando o seu ponto de vista no 1ºe o dos japoneses no 2º.


O 1º filme além do desenrolar da batalha,mostra uma faceta trágico-cómica dos intervenientes numa foto famosa que correu mundo no hastear da bandeira americana no monte em Iwo Jima.Afinal vimos a saber ao longo do filme que era tudo uma farsa, não a batalha em si,mas a verdadeira identidade dos que lá tinham estado, uma vez que alguns tinham morrido.

E à boa maneira americana, o tal espírito "aleluia" andavam 3 jovens, um marujo, um nativo americano e outro do exército de Estádio em Estádio a fazer propaganda do seu "heroísmo" para conseguirem fundos para a guerra que iria matar outra fornada de rapazes como eles.E se recusassem a alternativa seria terem que voltar para a frente de batalha.
O 2º filme além da batalha focada pelo lado dos japoneses mostra vários tipos de indivíduos, como o fanático Tenente ,o refinado Coronel humanista que vivera na América e era Campeão Olímpico de Hipismo ,o soldado protagonista que só se quer safar(e safa)que deixa a sua simples vida de padeiro e a mulher grávida.
A grande mensagem vem pela boca dos soldados japoneses ,carne para canhão dizimados ás centenas por falta de armas e de comida.Ao ouvirem a tradução de uma carta escrita pela mãe dum soldado americano capturado ,que morrera junto deles -afirmam que afinal as recomendações e as palavras de ternura das respectivas mães eram iguais e que pouca diferença havia entre eles, jovens atirados para uma guerra muitas vezes com falsos pretextos.

Esta forma de misturar a guerra operacional com o aspecto psicológico dos jovens americanos e japoneses está feita de forma magistral.Recomendo os dois filmes pois são fora de série.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Farias hoje 79 anos...



















No Castelo de Kenilworth no Reino Unido em 1973

Partiste para sempre no Dia de Finados em 2/11/ 2003 e faleceste junto a mim no Hospital da CUF, de uma Leucemia Mieloide crónica e Enfisema Pulmonar.Revelaste grande coragem nessa última semana, algo de que não te sabia capaz, dado o teu percurso de vida.

Essa semana modificou a minha maneira de ver a vida hoje em dia e estabeleceu a bitola com que eu meço a coragem de cada um e deu-me o significado do que Jesus queria dizer com "perdoai a quem nos tem ofendido".

Para mim a Religião- ritual deixou de valer para ser substituída pelas palavras sábias do Fundador do Cristianismo, atendendo que faleceu apenas com 33 anos.Nessa idade geralmente estamos longe da Sabedoria Comportamental.

Tenho há muito vontade de escrever sobre ti e fá-lo-ei não sei bem quando, pois ainda me é muito doloroso, mas hoje no dia do teu aniversário, direi que a abordagem errada no meu relacionamento contigo, foi a causa do nosso afastamento de 10 anos. Nunca tinha percebido que tu gostavas de mulheres de forte personalidade- a tua mãe, as tuas irmãs, mesmo mais tarde as tuas filhas e se o sou agora, não o era na altura.

Verifico agora que quando eu me afastava e marcava a minha posição , tu recuavas e fazias o possível para me reconquistar.Se eu não tivesse chorado tantas lágrimas por ti, teria tido a admiração e amor por mim que demonstraste nos últimos 3 anos de vida.E se não tivesses sido tão mal influenciado como foste por pessoas que não queriam certamente a tua e a minha felicidade não me terias feito sofrer e às tuas filhas .

Por vezes a cobardia é o pior defeito que se pode ter.
Tentei viver a vida à minha maneira, nem sempre bem sucedida, mas atendendo aos pesadelos que não me deixam de assombrar tenho de concluir que era a ti que eu amava de verdade.
Repousa em paz na certeza de que estás sempre presente na minha vida.

Soso pequena de tamanho,grande de coração...

















Neste dia em que fazes 47 anos, é
altura de falar de ti.

Desde que vieste ao mundo foste sempre a doçura e o afecto personificados.
Nasceste na Maternidade dos Empregados do Comércio no Largo do Caldas, freguesia de S.Cristóvão e S.Lourenço como 5 dos teus irmãos e pesavas 3,800 kg e 50 cm de altura.O teu parto com a D.Maria de Lurdes, comparado com o 1º, de pesadelo,da S.na Alfredo da Costa, foi rápido e ajudado por medicamentos e lembra-me que quando nasceste o Sol entrava a jorro pela janela da Sala de Partos.
Sempre foste muito ligada a mim e um pouco a vítima da tua irmã mais velha que tinha uma forte personalidade.

O teu caminho na vida não tem sido nada fácil e com excepção de um pequeno desvio na adolescência em que me deste muitas preocupações,sempre foste motivo de alegria para a tua mãe.Mesmo nessa altura tu sabes que tive sempre ao teu lado quando precisaste de mim.

Sempre foste muito independente,herdaste isso de mim, por isso aos 17 anos foste viver a tua vida com o teu companheiro de sempre o nosso querido N.Aos 20 anos foste mãe da M.após várias tentativas falhadas,tornando-me avó aos 42 anos, tendo eu sido mãe pela última vez aos 38 anos,daí a proximidade actual da L. e M.

Sempre foste o meu elo de transmissão para as tuas irmãs, pois tinhas o condão das convencer o que não acontecia comigo.


Mas é muito mais do que isso, pois foi sempre a tua maturidade e sensatez e o exemplo, que as faz ainda hoje recorrerem mais a ti do que a mim.Mesmo eu verifico muitas vezes contigo se estou a agir bem ou mal.Para mim além de filha és uma grande amiga.


Gostaria ainda de louvar a tua determinação nos estudos.Ficaste com o 5º ano do liceu quando a M.nasceu, mas quando ela cresceu resolveste seguir os estudos com o maior êxito.Estás hoje a preparar o Doutoramento em Sociologia com uma Bolsa, que maior orgulho para uma mãe!


Costumas dizer que eu passava a vida a comparar os êxitos da tua irmã mais velha e que te sentias mal com isso. Peço que me perdoes pelo erro, pretendia apenas estimular-vos para a excelência e podes crer que sempre acreditei na tua inteligência e muitas vezes te defendi perante a tua tia que te subvalorizava.


Neste dia em que também fazia anos o teu padrasto, um agradecimento por seres como és.

terça-feira, 8 de julho de 2008

O Baú das Recordações - Um passeio atribulado


É difícil imaginar hoje em dia que aos 13, 14 anos no meu tempo raramente estivéssemos sós com os rapazes do nosso Grupo de Férias e que geralmente tivéssemos que andar com um adulto atrás.

Passou-se isso em Carcavelos onde se alugava casa no Verão e encontrávamos os mesmos amigos todos os anos.A única distracção para além da praia, era o cinema, uma vez por outra e passeios,a pé à Parede ao Rádio Clube Português,ao jardim e muito raramente um baile, que o meu pai nem sonhava, geralmente com os meus discos de 78 rotações de tangos, sambas,valsas, já que eu era uma privilegiada nesse aspecto.

Quem geralmente nos acompanhava era o pai duma amiga minha que era uma camaradão e muito aberto à juventude.

O passeio de que vou falar foi um de que nunca mais me esqueci,de comboio até Cascais, ao Parque da Gandarinha, que tinha um lago estilo Campo Grande onde se andava de barco a remos.

Estreámos nesse dia eu e a I.vestidos novos em branco, o meu era de piqué abotoado ao lado e sem mangas, o dela igual mas noutro tecido, feitos por uma tia dela a quem eu chamava também tia.Onde quer que esteja tia Lúcia obrigada por tudo.

Saídos da viagem de comboio chegamos ao Parque para piquenicar e nos divertimos e alguém sugeriu mais tarde um passeio de barco no lago, uns tantos rapazes e raparigas numa embarcação e outros tantos noutra.

Tudo parecia correr bem até que os rapazes resolveram começar a baloiçar os barcos para assustar as meninas e com isso fomos parar todos ao charco.

Imaginem a nossa figura no comboio todos molhados com os nossos lindos vestidos brancos todos verdes de lodo, com sandálias a pingar e as nossas mães à nossa espera em Carcavelos.

Moral da História,não aconselho passeios de barco em lagos sujos, muito menos se não se tiver um automóvel à espera que esconda a humilhação que nesse dia sentimos.

sábado, 5 de julho de 2008

Os "Petits Noms"


Tenho notado que quase todas as crianças começam por por um "petit nom", um diminutivo, a si mesmos.Umas vezes esse prevalece mesmo quando são adultos outras nem por isso.

Vem isto a propósito do Lourenço que a ele mesmo se chama Enxo, o que é natural porque o nome não é fácil de pronunciar.

Vejo por exemplo que o pai é chamado de pela família mas não o chamamos assim.

Falando de mim não imaginam como me chamavam em pequena, não riam"Popy".Imaginam a troça que faziam de mim. hoje optei por "Kalli".

"Petits noms" extravagantes são os da alta Sociedade-Batata,Kiki,etc

Mesmo assim cá em casa não foi muito mau.

A mais velha chamava-se a ela mesmo Nené e mais tarde para a minha titi e madrinha era a menina "Su".

A outra a seguir era a "Sosô"(ainda hoje a chamo assim)e outros chamavam-na a "Fifi".

A Terceira era chamada de "Cau" pelos irmãos mais pequenos o meu filho era o "Tico"a 5ª era "Aninhas"/ "Anica", a mais nova a "Lili", mas o pai chamava-a de "Bolinha".

Quanto aos netos as duas mais velhas tinham o mesmo diminuitivo "Mely"e a Inês era chamada de "" pelo Lourenço quando era mais pequeno.Relativamente aos outros netos do meu filho confesso que desconheço ,mas costumava chamar ao Pedro "Pedrocas".

Talvez por causa das dificuldades neste campo tenha posto às mais novas, nomes de 3 letras.

Em que ficamos ,nomes pequenos com "petits noms" maiores ou nomes grandes com diminuitivos mais curtos? O que acham que é melhor ?

Lourenço da Arábia




Lourenço estes são primos do teu Cácá !


Não ,não vou falar do Lourenço da Arábia, o T.H.Lawrence, personagem que por acaso me intrigou bastante depois do filme, tendo feito pesquisa bibliográfica sobre ele.
Vou falar um pouco do meu neto Lourenço, o meu menino lindo.

São apenas umas notas sobre o meu trabalho de babysitter ontem.
Ficou comigo ontem cá em casa, enquanto a mãe foi ao cabeleireiro aqui ao lado fazer um tratamento.


Já falei como ele se sente à vontade comigo e assim foi.Convidei-o a regar as minhas plantas que são muitas, ajudei-o com o regador e em seguida expliquei como se usava o borrifador de plantas com mola.Aprendeu logo e tratou de aspergir tudo quanto era planta, fosse natural ou artificial comentando-"Está fesquinho"(Ele não usa bem o feminino).E quando achei que já chegava, passou a fingir-com gestos das mãos e barulho-xe,xe,xe..Foi o máximo.


À noite em casa dele foi um sarilho para os pais saírem porque chorava imenso, mas lá consegui distrai-lo.Estava a ver o Pocoyo no computador da mãe e eu tocava na tecla do pad que emitia som , dizia plim-plim e ele ria-se à gargalhada.No fim ele imitava o plim-plim e terminou tudo em bem.Fui deitá-lo com o peluche que ele adora o Cácá-um castor fechei as luzes e ele adormeceu.

Não posso deixar de gabar a minha filha e genro, por terem educado este menino tão bem no deitar.Ele toma o banho, janta pela sua mão, brinca, faz o cocó na pia a ver livros e deita-se às escuras desde bebé sem nunca chorar, pois sente-se cansado e só quer dormir.Lembra-me que nem todos os meus filhos eram tão obedientes, embora possa dizer que nunca me fizeram fitas para dormir.Como toda as crianças tiveram os seus bons e maus momentos, mas o balanço foi francamente positivo.

O meu neto é ou não um menino das Arábias?

As Matrioskas

Ao pensar no que queria dizer nesta mensagem lembrei-me logo das Matrioskas e já vão ver porquê.
Dou-me mais com as minhas filhas mais novas, por causa dos netos, mas também falo ao telefone com frequência com a nº2 e 3.
Confesso que a atitude da mais nova para comigo, em relação ao Curso de Porcelana que frequentei durante 9 anos e às minhas obras de pintura, estanho e afins me deixava desanimada.
Ela não ligava aos meus trabalhos e embora os meus colegas e o Mestre do meu Curso os achassem bastantes bons ,ela não via a utilidade de eu pintar tanta porcelana e quadros.E não era só ela, também não tinha muito apoio da minha mãe, o que me desanimava muito.Deixei até de pintar, há ano e meio para cá.
Confesso que adoro estes género de trabalhos, herança certamente do meu pai que pintava e esculpia e protegeu financeiramente muitos artistas que são hoje famosos, comprando-lhes quadros para os ajudar.
Não me chegaram infelizmente às mãos, por viciação nas partilhas, quando o meu pai morreu, mas conheço esses quadros ,como os Almada Negreiros,Nikias Skapinakis,Eduardo Malta,etc.
Mas já tenho seguidora na minha filha C.que vive na Alemanha e me mostrou os últimos quadros dela.Começou há pouco tempo, mas tem evoluido imenso e já pinta muito bem.
As conversas com ela fizeram-me ver que elas são em relação a mim como as Matrioskas.Embora a 50% vejo nelas a minha herança dividida pelos seis.Os outros 50% representam os genes dos respectivos pais.Todas juntas constituem a Matrioska de fora que sou eu.
Se não vejamos - a mais velha tem de mim uma certa exigência nos resultados e gostos culturais semelhantes.As outras a seguir que me perdoem se as magoei ao compará-las na altura da escola, mas não foi porque duvidasse das suas capacidades, mas porque gostava na altura que elas fossem melhores estudantes.
A 2ª, também era muito artista, pintava, fazia colares, desmanchando os meus à socapa e muito afectuosa para os irmãos.Mas dela falarei em pormenor no dia do seu aniversário.Da 3ª já falei, o 4º o rapaz herdou de mim, o gosto por equipamentos novos e alto de gama e o gosto pelos filmes.A minha filha nº5, que dizem ser parecida comigo no feitio,é precipitada e atira-se de cabeça para as situações sem pensar primeiro.Eu também era assim, mas aprendi à minha custa.Tem também a mania de tentar ajudar a todo o custo pessoas com problemas psicológicos complicados, mas nesse aspecto tenho dúvidas se é só de mim porque o pai também toda a vida se meteu em complicações por querer ajudar toda a gente.
A mais nova que foi a última a sair de casa,tem a minha exigência cultural,gostos semelhantes, na música, ballet, mas no resto nem sempre estamos de acordo.Vejo nelas algumas características do pai,que sempre foi bom conselheiro,mas sempre fez o que lhe dava na gana, fosse certo ou não. Não quer isto dizer que elas sejam a minha cópia, são muito melhores que eu felizmente , porque por razões involuntárias, como a falta de experiência e preparação neste campo, reconheço que não fui a mãe que elas mereciam.Mas os meus filhos no fundo sabem que os amo muito e podem sempre contar comigo, mesmo estando afastados de mim.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Também há Chefes bons...

Na última mensagem ataquei os chefes dizendo que ou eram burros ou engatatões, mas acho que exagerei.
Quero aqui fazer justiça a 3 superiores que tive no Banco ao longo da minha carreira de quem só tenho que dizer bem.E curioso 2 deles até eram considerados muito difíceis.
Falarei em 1º lugar do 1º Chefe que tive no Banco na então Secção de Câmbios , que se chamava Adonis e era uma pessoa recta,alegre e que nos punha à vontade.Eu era a única senhora porque até aí havia poucas mulheres no Balcão e em Secções Operativas.Fui tão bem ensinada que ainda hoje sei tudo o que se faz na área de estrangeiro, com a ressalva que actualmente tudo é feito por computador e naquela altura era tudo à mão ou melhor à máquina.Lembra-me que um dos meus clientes habituais era o D.Duarte Pio, Duque de Bragança, isto no ex-Banco de Angola.
Gostei de estar ao Balcão porque se convive muito com nacionais e estrangeiros e foi um bom estágio para a função a que concorrera-tradutora de francês,inglês e alemão-aliás este ano que lá estive para aprender a terminologia bancária e como eram efectuadas as operações permitiu-me mais tarde na Reclassificação dos Técnicos na União de Bancos Portugueses, ser logo reclassificada 2 níveis acima,por este período ter sido considerado estágio feito.
Depois de ter entrado com o pé direito no Banco,já que fora uma das 3 senhoras licenciadas apuradas num Concurso de mais de 200 concorrentes , nos cerca de 12 anos seguintes fui transferida para a Área Administrativa como Tradutora e penei com os novos Chefes,pois como dizia o Herman "cada cavadela, sua minhoca".Cada um pior que o outro, ignorantes, maldosos, invejosos.Quase desesperei.
Nos últimos anos passei a depender só dos Directores e deles só tenho elogios para um.Era um Director vindo do ex-Pinto de Magalhães para onde entrara menino e que se destacara pela sua inteligência brilhante, a sua competência , mas também pela sua exigência para com ele e os outros.Sem ter concluido os estudos superiores, era no entanto conhecedor profundo das Operações Bancárias quer nacionais, quer internacionais e para mim tinha a maior qualidade que eu poderia encontrar- era aberto a sugestões, gostava de dar cada vez mais responsabilidades a quem ele achava que merecia e ensinava com gosto aquilo que ele dominava.
Chama-se José Eduardo Sequeira e é um pouco mais novo que eu.
No entanto era muito severo para os que faltavam demais, chegavam tarde, ou não produziam.Foi ele que me nomeou Responsável pelas Autenticadoras Swift(uma espécie de Net entre os Bancos)-pelas Chaves telegráficas, pelo Ficheiro Central de Bancos, me deu assinatura pelo banco e carta branca para eu organizar toda a minha área.Ensinou-me além disso a parte contabilística de muitas operações não correntes, por saber que não era a minha especialidade.Encontrei-o há pouco tempo no SAMS, continua a lutar contra uma doença grave e recordo que ainda eu estava a trabalhar há cerca de 12 anos ele ia fazer tratamentos de quimioterapia e voltava para o banco e trabalhava até tarde como se nada fosse.
De aqui um muito obrigada pela forma digna como sempre me tratou.
O último,"last but not the least" a quem gostaria de agradecer é o Dr.António de Almeida,gestor-público, que foi Presidente do Conselho de Gestão do ex-Banco de Angola, vários anos e depois Presidente do Conselho de Administração da União de Bancos Portugueses. Como o outro Director de que falei, era dotado de uma inteligência vivíssima, de uma competência a toda a prova e duma educação esmerada.
Sempre trabalhei em traduções para o Conselho, mas quando era para Presidente ,costumava fazê-las e depois reunia com ele numa mesinha de 3 pés antiga no seu Gabinete e pedia-lhe que me explicasse em português as operações citadas para eu perceber e poder traduzir correctamente.Não há muitos no lugar dele a ajudar como ele me ajudava,a maior parte dos empregados nem tem sequer contacto com a Administração, quanto mais reunir com o Presidente.
Posteriormente quando foi a fusão dos 3 Bancos que deram origem á UBP,entrei na Comissão de Trabalhadores do novo Banco, constituída por 2 elementos de cada ex-Banco maioritariamente licenciados, uns em Direito, outros em Economia, eu em Letras e ligada mais à Organização.
Durante esse período dado que a Sede do Banco era no Porto e eram lá as reuniões com a Administração, viajei mais de 30 vezes para lá, 1º de automóvel, depois de comboio e no fim de avião com os meus colegas.Aprendi muito nessa época-a expor assuntos, sobretudo sociais, especialmente com o Presidente.Ele mesmo ensinava-nos como deveríamos apresentar os problemas à Administração de forma correcta e se possível sem cunho partidário.Ficaram famosas as trocas de argumentos com os elementos do MRPP da Comissão.
Talvez porque estivemos juntos tanto tempo e ele aprendeu a conhecer o valor dos elementos das Comissões, quer a de Trabalhadores, quer a Sindical, muitos de nós fomos colocados no novo Banco nos locais que pretendíamos.
Calculo que ele não deixou de seguir a minha carreira de perto, pois promoveu-me uma 1ª vez quando eu estava em casa pelo nascimento da minha 5ªfilha e outra vez quando nasceu a minha 6ª, enviando-me inclusive um cartão muito amável para a Maternidade.
Ambas as promoções foram consequência das reclamações doutros Técnicos, com menos anos de Serviço, em que ele argumentou que primeiro estávamos nós, os mais antigos.(Os Técnicos só são promovidos por mérito,atenção!).
Só depois de ele sair do Banco soube que era do mesmo Partido que eu , tendo até exercido funções governamentais no Ministério das Finanças.Creio que já esteve à frente da EDP e actualmente já deve estar reformado.Nunca nas nossa reuniões com elementos do PCP,PSD,PS,MRPP ele deu a entender a sua filiação.
Muita da Organização do ex-Banco de Angola, que era um Banco do Estado, foi reproduzida na UBP , já que nos outros 2 bancos a estrutura era quase caótica, havendo quase mais Directores que empregados, com diversas remunerações.
E curioso, por força das fusões viemos a ficar no mesmo Banco, o Presidente do Sindicato dos Bancários, membros da UGT, na altura na Comissão Sindical.Desta época de militância político-sindical guardei imensos amigos que são os únicos antigos colegas a quem trato por tu.Nas viagens, nos hotéis onde pernoitávamos, habituamo-nos a desabafar uns com os outros e havia uma sincera amizade e companheirismo que nunca encontrei no dia a dia no Banco.