Quem vê a Praia hoje e a acha grande, tem cerca de 1 Km de areal, não faz ideia do que o mar já "comeu" em 40 anos , na largura.Havia outro tanto da linha de barracas até à muralha, sendo um suplício ter de percorrer a areia quente quando se regressava a casa para almoçar. Como calculam as minhas lembranças são sobretudo a partir dos 10 anos embora eu já frequentasse esta praia desde 1940 como se pode ver por uma fotografia que publico aqui.
Parece estranho hoje que nessa altura se alugasse casa no Verão, na Linha de Cascais, geralmente por 3 meses.Os senhorios eram invariavelmente moradores de pequenas casas com anexos, que alugavam a sua e habitavam os anexos no Verão para conseguirem um rendimento extra.Tem que se ter em conta que na altura poucas famílias tinham carro e se o tinham ficavam em Lisboa com os maridos que não tinham esses tempo todo de férias.
Não me lembra de na altura as mães terem carta, esse hábito só veio muito mais tarde nos anos 60, para alguns e mesmo na Faculdade os automóveis rareavam.No meu caso tirei a carta aos 18 anos no ACP, mas dado que o meu marido guiava ,só quando me divorciei passei a conduzir.Era habitual arrendar-se todos os anos a mesma casa, ou pelo menos na mesma zona, pelo que todos os anos encontrávamos os mesmos amigos.Haviam os amigos de Lisboa da escola e os das férias de Carcavelos.Poucos desses amigos me acompanharam para além da adolescência e por curioso que pareça esses passaram comigo para a a zona da Ericeira onde a minha mais tarde mandou fazer uma moradia na Achada a 5km da Ericeira e de Mafra.É que eles habitavam todo o ano em Carcavelos mas a tia tinha casa também ao pé da da minha mãe na Achada.
Mas voltando a Carcavelos, nos primeiros anos de que me lembro, ainda não havia a Avenida que vem da Estação à Marginal, era um caminho retirado à Quinta dos Inglesinhos, onde funcionava o Colégio Inglês.Vinha-se a pé, e era uma distância considerável, ou mais tarde de "charrette" uma espécie de carroça puxada a cavalos e toda enfeitada no toldo.
Tal e qual como hoje, em que se vai de caro para tomar um simples café a 500 m !
Também não havia Bares ou restaurantes na Muralha, trazia-se a comida de casa para depois do banho, lembro-me duns apetitosos pães de leite em forma de bonecos que se comprava na padaria e mais tarde das célebres bolas de Berlim vendidas por mulheres em caixas de folha e das batatas fritas nos cestos.Havia ainda os vendedores de barquilhos uma espécie de cones de gelados fininhos em bolacha dentro duma caixa cilíndrica vermelha de folha com uma espécie de roleta em cima.Andava-se com ela à roda e assim nos calhava 5 ou 7 ou 8 ou mais pelo mesmo preço.Eu adorava e ainda adoro esse tipo de bolacha.O mais parecido são os canudinhos para gelado.A Praia tinha vários banheiros concessionários que guardavam os brinquedos e cadeiras de praia nos barracões e nos ensinavam a nadar no mar, que em Carcavelos é muito perigoso, por causa das ondas altas e correntes, já que na extremidade da Praia em S.Julião da Barra desagua o Rio Tejo.É a 1ª praia de mar da linha vindo de Lisboa.
Não havia luxos para as crianças, não se comiam tantas guloseimas, mas éramos felizes com esta vida simples.Não havia tantos obesos nas crianças, pois estávamos sempre em movimento-jogava-se ao Ring,à bola, ao Prego, conversava-se e tomava-se inúmeros banhos, à tarde em casa dormia-se uma pequena sesta e só depois tínhamos ordem de ir para o jardim a 2 passos de casa continuar os nossos jogos.Outra vezes jogava-se ping-pong nas mesa de casa de jantar ou jogava-se ao Monopólio. Mais tarde ,na adolescência esses jogos infantis foram substituídos pelos bailaricos em casa uns dos outros, o Cinema, as idas à Estação, literalmente para ver os comboios passarem e aproveitar para namoriscar um pouco mais à vontade.Tudo muito inocente e sobre o olhar vigilante das nossas mães.
A vida de Praia na Ericeira mais tarde para os meus filhos, afinal não foi assim tão diferente nas suas rotinas, até porque a minha mãe que ficava com eles no Verão ,eu só tinha 2 semanas de férias, sempre foi muito rigorosa com o seu comportamento.Muita rua, tínhamos um jardim /pinhal e pomar enormes, pouca televisão, refeições a horas, doces controlados.
Isto só para dizer que se passou do 8 ao 80.Da obediência cega, pois não nos passava sequer pela cabeça deixar de ir de férias com os pais e muito menos desaparecermos sem ordem caiu-se no extremo oposto.Os mais pequenos, exigem tudo e mais alguma coisa,gelados, bolos, gomas, brinquedos,consolas e computadores e são viciados em televisão, os mais velhos automóveis, noitadas, viagens a Paraísos Exóticos(nessa altura aguentam os pais), férias separados.
Não fui mãe perfeita, mas pelo que vejo com os meus netos, eles são equilibrados e alguma coisa passei aos meus filhos neste campo.
Decididamente no meio termo é que está a virtude !
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