sábado, 15 de agosto de 2009

Um Projecto de Vida que não resultou e deixou muitas sequelas...

Esta madrugada faleceu com 71 anos o A.J, meu primeiro marido.Para quem segue a religião católica, o que não é o meu caso, só nesse momento se dissolveram os laços que nos uniram em matrimónio no longínquo Domingo de Páscoa, 21 de Abril de 1957 na Igreja de S.Mamede em Lisboa.
Quem é que aos 17 anos quando o conheci ou 18 quando casei com ele, não sonha que será para toda a vida, ainda mais sendo ele o 1º namorado?
Em princípio tinha tudo para dar certo,ele já não tinha pais e foi acolhido pelos meus de coração aberto, estudávamos os dois na Universidade "Clássica" de Lisboa, ele na Faculdade de Medicina no Hospital de Santa Maria eu na de Letras, na altura no velho Convento de Jesus e no 3º ano na actual localização na Cidade Universitária. Debaixo das asas da minha mãe ,financeiramente ajudados pelos meus pais e uma pequena herança da parte dele, só tínhamos que estudar e dar largas ao nosso amor.Mesmo quando nasceu a nossa primeira filha tinha eu 19 anos e estava no 2ºAno, até mesmo a segunda nascida 3 anos depois, a nossa vida pouco mudou.
As nossa desavenças começaram depois, já vivendo sózinhos, dado que eu tinha um grande sentido das responsabilidades e ele não. O casamento em idade tão precoce e a paternidade de 4 filhos não obstaram a que continuasse a vida despreocupada de estudante.
E depois a enorme diferença de feitios e de posicionamento perante a vida começou a acentuar-se cada vez mais.
Educada de modo severo, habituada a obedecer sem contestar, havia em mim uma necessidade de liberdade de espírito que era imediatamente cerceada pelo seu feitio dogmático e enviesado.
Afinal eu tivera uma educação vastíssima e ao meu espírito curioso fora permitido, por força da disponibilidade financeira e vanguardista do meu pai, expressar-me na música, nas artes, nas variadas línguas desde a mais tenra infância.
Como poderia eu não me sentir frustada com um marido que desdenhava as minhas opiniões em público, com manifesto mau-estar dos nossos amigos.
A revolta foi grassando em mim e minando o meu amor por ele, que ao invés de me compreender começou a usar da força para me submeter.Mesmo não havendo divórcio na altura,simples separação fui para a frente e não hesitei e ainda hoje não estou arrependida.

O meu 2º marido está longe de ter sido um santo, fez-me sofrer bastante com o seu feitio mulherengo, mas nunca, jamais, duvidou do meu valor como Mulher, antes pelo contrário, deixava-me envergonhada quando perante terceiros se punha a gabar os meus conhecimentos e a minha pessoa.
Tudo o que o A.J. me fez de mal até poderia estar esquecido,afinal já há 40 anos que nos separámos e não me afectou e até compreendi que ele tivesse casado logo a seguir ao nosso divórcio com outra senhora, mais conforme ao seu feitio.

Mas se a mim não me deu o devido valor aos nossos 4 filhos ainda menos.
Não tendo filhos da actual mulher, seria de esperar que mimasse os nossos filhos e netas, mas não.
Ganhando bem como médico seria de esperar que os ajudasse financeiramente nos estudos, e não regateasse os extras da sua educação,mas nesses aspecto nunca me ajudou.
Recusando liminarmente alterar os seus tempos livres em prol de programas com os filhas nos fins de semana decretados pelo Tribunal acabou por as afastar dele por desinteresse manifesto.
Em relação ao meu filho, previlegiando-o por ser rapaz e estar a viver com ele, afastou-o de mim contrariando as ordens do Tribunal.

Gostaria num dia como este , que o Balanço da sua vida tivesse sido mais positivo mas continuo sem compreender a razão porque alguém com um Curso de Medicina consegue ser tão vazio de afectos e centrado sobre si mesmo , ao ponto de mesmo sabendo que tinha uma doença gravíssima não ter tentado restabelecer os laços com as filhas sendo elas estudantes e hoje profissionais de alto gabarito, com procedimentos sociais impecáveis,óptimas filhas e mães, na vil tristeza de qualquer tentativa de contacto ser considerada com segundas intenções.

Mal daquele que ao longo da sua Vida não tenta ser uma pessoa melhor e corrigir os seus erros.
Cinquenta anos, idade da nossa filha mais velha teriam chegado e sobejado para mudar de rumo.

Só tenho que lamentá-lo pelo desperdício duma vida que tanto prometia e que o rancor para comigo se tenha canalizado nas nossas filhas que inocentes neste caso cresceram sem pai, como se fossem orfãs ~.

Pela minha parte não te guardo rancor.Repousa em Paz, são os meus votos.


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Os 48 anos da minha filha"portátil",os 80 que faria o C.


É difícil esquecer-me desta data,mesmo com a preguiça que me tem atacado.Mais uma vez já vou atrasada, o aniversário foi a 11/7 mas vale tarde do que nunca.
Já esgotei os elogios que te tenho feito querida S.apenas acrescentar que continuas igual a ti mesmo,calma,ponderada e muito amiga.
Espera-te mais uma etapa difícil em pouco tempo-tens de escrever a Tese do teu doutoramento em Sociologia em pouco tempo, mas sei que vais conseguir com toda a garra que te reconheço.
É uma alegria verificar que tenho 3 filhas que foram mais além nos estudos do que eu, com uma simples licenciatura tendo em conta os sacríficios que todas elas tiveram que fazer.
A Excelência que eu sempre cultivei nelas, mesmo nas que estudaram menos deu frutos e que frutos.
Acho que poderei dizer -Missão cumprida K.
Nota: "portátil" quer dizer que és a mais pequena em altura das tuas irmãs,mas que és "maneirinha",chegas aonde as outras chegam.
Algumas palavras também para ti querido C. que permaneces vivo nas minhas recordações.Terias feito 80 anos mais 10 que eu, e o que mais me lembro é do encorajamento que sempre me deste e da tolerância exemplar pelas nossas diferenças.Aqui estou eu agora mais forte,mais segura ajudando as nossas filhas e as tuas enteadas e mimando e educando os nossos netos a quem falo sempre de ti.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

E já são 32...


Umas horas atrasada, mas presente para registar aqui o aniversário da minha filha mais nova, no dia 21 às 14 horas.
Esta foi a única filha que nasceu na data prevista na Maternidade de Empregados no Comércio de Lisboa no Caldas, freguesia de S.Cristovão e S.Lourenço, com 4,200 kg e 62 cm.
Um parto rápido e muita felicidade pela sua chegada quando já tinha 38 anos.O Pai estava fora e só a viu na Segunda-Feira, ela nasceu num Sábado.
A foto acima nem é de agora mas mostra o seu sorriso bonito com as suas covinhas.
Que dizer dela que ela já não saiba? O quanto gosto dela e como me orgulho do seu percurso,não só académico como esposa e mãe.
Não quer dizer que não tenhamos divergências, mas eu sei que posso sempre contar com ela em qualquer ocasião.Até porque moramos relativamente perto uma da outra.E depois há o meu neto que eu acompanhei diariamente até aos 18 meses.
Atenção que eu também tenho um óptimo relacionamento com as outras filhas e netos, mas esta msg é para ti Lili.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Recebi fotos do Keiran...




O Keiran é o meu bisneto filho da minha neta Mely.
Já faz 5 meses no dia 25 e está um bébé lindo só alimentado a peito.
É parecido com a mãe não acham e semelhante aos bebés da família, gordinhos e com feições correctas.A Mely é que está magrinha e com ar cansado.

Estou toda vaidosa com o novo membro da família.

Nem tudo são boas notícias...

Soube pelas minhas filhas,por estes dias que o meu ex-marido luta contra uma doença grave nos pulmões.
Nunca pensei que o assunto me viesse a perturbar, mas veio.
Não o vejo há mais de 25 anos, estou divorciada dele há 40 e embora eu não seja pessoa de negar o meu passado, confesso que as recordações dele são más , foi um mau marido e um péssimo pai.
O seu feitio autoritário e egoísta levou ao afastamento das filhas, fartas da indiferença e do bota abaixo do senhor.
Quando qualquer pai normal se sentiria orgulhoso com o percurso invulgar das filhas a nível de estudos ele ache que Doutoramentos que não Medicina são desnecessários, (se calhar para ele as mulheres deviam coser meias) ele não as procura nem quer saber, pelo que muito provavelmente vai acabar sózinho com a "escrava" que me substituiu.
E eu tenho é que apoiar as decisões das minhas filhas.Para elas o Pai já morreu há muito.
Custa ver um homem de 70 quase 71 anos, médico, comportar-se assim, mas ele não tem emenda , e eu por mim aprendi à minha custa o erro de ter casado com ele há 52 anos e o ter escolhido para pai de 4 dos meus filhos.
Desejo de todo o coração que ele seja um dos que se cure, já que a ex-mulher do meu 2º marido também teve a mesma doença e ainda está viva com 83 anos.
.

O Mês dos Aniversários na família...



Aqui vão os parabéns para os meus aniversariantes, com o pedido de desculpas pela demora.
No último dia de Abril a 30 0s 42 anos do meu filho.Ele não quer saber de mim, eu devia fazer o mesmo,mas não consigo.Tenho pena muita pena deste afastamento, sobretudo pelos meus netos que não podem usufruir da minha presença e da dos primos e tias.
Depois a 2 a minha comadre H.J,71 anos e o meu genro A. 38 anos.
Este meu genro veio substituir o filho que não o quer ser, é inteligente, educado,sensato e muito meu amigo.
A 12 foi a vez da minha filha C.I. 43 anos, lá longe em Bremen mas tão perto do meu coração.Tudo de bom para ti ,querida filha,que te estreaste como avó na mesma idade que eu,muita saúde e muitas alegrias.No dia 21 será a vez da mais nova ,L.D. completar 32 anos e no dia 26 será o meu enteado E.F que completará 56 anos, o mais velho do rancho.

sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril...Sempre !





Sou uma das felizardas que viveu intensamente o 25 de Abril. Vou tentar lembrar-me como o vivi. Nessa altura tinha 35 anos e estava grávida da minha filha Ana.Trabalhava no ex-Banco de Angola como o pai delas na Rua do Comércio e naquela manhã como de habitual eu e o C. dirigimo-nos de carro para o trabalho. Mas não houve trabalho, os tanques e Chaimites do Exército dominavam a Baixa e havia-os estacionados mesmo ao pé do Banco, já que os Ministérios eram nossos vizinhos e fomos mandados regressar a casa.
O C. sempre foi muito situacionista, mais por ignorância política do que por convicção.
Pela minha parte , embora o meu avô materno tivesse participado na Fundação da República em 1910 e fosse perto das correntes socialistas da altura, eu desconhecia que o jornal "República" que ele lia com uma lupa(tinha cataratas) era da oposição e a minha cultura política era zero, mas a minha maneira de ser um pouco rebelde e o grande amor que sempre tive à Liberdade, qualquer uma, fez com que eu acolhesse com simpatia o que se estava a passar.
Em casa, seguia-se o desenrolar dos acontecimentos passo a passo e foi com emoção que escutámos a "Junta de Salvação Nacional" proclamar a queda do regime de Marcelo Caetano, que sendo um Professor Universário muito estimado no meio académico, não soube ou não teve força para se opor aos ultras do seu Partido Único.
A generalidade do povo português não tinha Partido a não ser os Comunistas que viviam na clandestinidade, mas no meio bancário havia se não uma consciência política pelo menos uma Sindical.Os Bancários desde sempre lutaram contra o espírito corporativo que lhes pretendiam impor e pelos direitos dos trabalhadores.
Demorei algum tempo a escolher o Partido mas em Janeiro de 1975, filiei-me no Partido Socialista aonde continuo até agora.
Se tenho tido algumas dúvidas? Sim, mas eu ligo mais às ideias que aos políticos e no PS nunca senti que houvesse falta de liberdade.Sempre houve pessoas nele, umas mais à direita,outras mais à esquerda e correntes de opinião diferentes e todos convivemos bem, salvo raras excepções, eu mesma nem sempre estou com a corrente dominante e nem sempre voto nela mas ao tempo do 25 de Abril toda a gente queria fazer qualquer coisa pelo país e pelas instituições. Eu mesma era dirigente de Secção e passava parte do meu tempo livre lá Essa Secção abrangia na altura os militantes jornalistas já que os Jornais eram quase todos no Bairro Alto.Faziam-se muitas reuniões em que participavam figuras importantes da cultura, da Economia. e da Banca.Havia vida na Secção -convivia-se velhos e novos ,passeava-se em conjunto, um pouco como actualmente os Clubes de Bairro.Era mesmo muito giro.
Paralelamente tinha-se actividade Sindical nos Locais de Trabalho e começou-se a zelar pelos direitos dos trabalhadores.No meu caso pertencendo ao Sindicato dos Bancários um pioneiro nessa lutas,cedo comecei a enveredar por essa área, como Delegada Sindical e durante 2 anos na Comissão de Trabalhadores do Banco de Angola e posteriormente na da União de Bancos Portugueses quando da fusão.
O que aprendi? Muito a todos os níveis.Os jovens tem tendência a menosprezar esse trabalho e até mesmo membros da Administração perguntavam-me porquê eu com uma Licenciatura.
Costumava responder que eu estava onde a Empresa mais precisava de mim e numa altura de fusão em que 3 Bancos se juntam num novo, o factor humano tem de ser respeitado, quando há 3 pessoas para cada cargo(3 Bancos) e excesso de pessoal.
Aliás nessa altura não era a única licenciada, havia-os em Direito e Economia comigo na Comissão.
Aprendi também a expor ideias em voz alta a uma Administração, a trabalhar em equipa,com pessoas doutros partidos e a relativizar as coisas, o que foi muito importante para mim na minha vida pessoal.

Mas voltando ao 25 de Abril, lembra-me da Ana na Secção a gatinhar de fralda no quintal da moradia, da colagem dos cartazes feita pela minha filha mais velha com o António Costa um miúdo 3 anos mais novo do que ela.

Lembro-me dos ataques com gás lacrimogénio ao Jornal "República "em que apareceram os jovens da JS todos a chorar na Secção, dos ataques às bandeiras fora dos carros por militantes da extrema-esquerda, lembra-me do célebre discurso do Pinheiro de Azevedo em pleno Terreiro do Paço e do ataque do Copcon aos manifestantes e à minha fuga para o Chiado com filhas e sobrinhas adolescentes.Do primeiro 1º de Maio falarei noutro post.Lembro-me dum Comício do PS no Coliseu em que cantava a Lena d'Água e do desaparecimento da minha filha Ana com os seus 6 anos e como eu e o pai a encontrámos muito descansada a falar com a cantora nos bastidores já que era uma grande fã dela e do Mário Soares no Comício da Alameda,lembro-me 3 anos mais tarde do Congresso da Internacional Socialista no Hotel Ritz, realizado à porta fechada, em que conheci pessoalmente políticos como o Willy Brandt,o Olaf Palme, o Felipe Gonzalez e Bettino Craxi para quem servi de intérprete, estava nessa altura grávida da minha filha mais nova.
Lembro-me duma época em que na casa dos 30 anos ainda pensava que ía mudar o Mundo.
Hoje ainda não desisti, mas tenho muitas dúvidas e preguiça de me envolver outra vez na política.
Mas que foi lindo, foi, e que deixou saudades, muitas.