Dou comigo a pensar, que um dom que é considerado precioso e gerador de sucesso na Vida, tem por vezes o efeito contrário.
Pelas leis da hereditariedade parte-se do príncipio, que quando os progenitores são ambos dotados de "miolos" acima da média , os rebentos têm todas as probabilidades de virem a ser inteligentes como eles.Convenhamos que a partida, é um bom começo, mas há outros factores a juntar à herança . Os afectos, o ambiente em que se está inserido, a educação obtida e até mesmo a pressão que hoje se traduz mais por stress, a boa formação moral dos outros com quem se lida, etc,etc,etc.
Como é que faz a aferição pessoal se se é inteligente ou não? Bem no meu caso que é o que melhor conheço, começou por eu já saber ler antes de ir para a Escola e ter começado logo nessa idade a ter lições de inglês e francês com uma senhora filha de pai inglês e francês,a quem presto aqui a minha homenagem pelo seu saber e modéstia Mrs A.Nesbitt Faria que se licenciou posteriormente em Belas Artes e ainda está felizmente viva. Ao mesmo tempo comecei em casa com aulas de piano , cujo Curso do Conservatório deixei a meio e de pintura e bordados actividade que depois de me reformar retomei.A minha professora de piano foi a Drª Cândida Mota Pereira de Araújo, prima do Dr.Mário Soares, que também quero homenagear aqui, daí que a minha 1ª Audição em público tenha sido no Colégio Moderno, na presença do idoso Mestre Óscar da Silva, onde dos importantes Compositores Portugueses, que me incentivou a continuar.
Hoje está provado que a ânsia dos pais em porem os filhos a fazerem mil e uma actividades para além da Escola tem um efeito perverso, pelo stress que causa numa criança.Se hoje me orgulho de ter tido uma educação tão completa,também me interrogo se valeu a pena os sacrifícios que exigiu de mim.Tenho presente por exemplo um Verão em que fui para Carcavelos como de costume para uma casa alugada(este tema ficará para depois) e ter levado um piano para tocar longas horas todos os dias e levar o Livro do Solfejo para a Praia para estudar, por causa dos exames no Conservatório.
Lembro-me também que fiz 2 vezes o exame da 3ª Classe porque estava um ano avançada em relação às outrascolegas (faço anos em Fevereiro) e de me terem obrigado a repeti-lo no ano seguinte.Fiz esse exame na Escola do Bairro Grandella onde hoje é o Museu da República, na Estrada de Benfica.Tive sempre excelentes resultados nos Exames do Liceu, mas não tão bons durante o ano, talvez porque eu era a "Maria dos 7 Ofícios" e dispersava-me com outras actividades como ler centenas de livros que adorava, fazer Espectáculos de teatro e canto, escrever romances,ter dança rítmica no Liceu porque o meu pai não me deixava cá fora (razão da minha paixão actual pela Dança ).
E dái vem a minha outra conclusão.Eu no Liceu era popular, fui Chefe de Turma, morava na Rua do mesmo, por isso a minha casa era mel para as colegas, porque dizia-me outro dia uma delas que é médica e encontrei no Sams, eu tinha giradiscos e muitos discos, de 78 rotações na altura e um nível de vida, que eu achava natural, mas que elas não tinham. E o reverso da medalha, havia selecção da minha mãe, umas podiam ir outras não, com o inconveniente que ela foi sempre pessoa de embirrações com os meus amigos, ao longo da minha vida, fossem pessoas novas ou idosas.
Talvez por isso eu e a minha comadre H.que foi criada comigo como uma irmã, passavamos o tempo em que ela estava no trabalho a inventarmos traquinices, estilo subir ao telhado da Moradia, apanhar fruta no quintal da vizinha, aí pelos 8,9 anos.Mas tinhamos um medo desgraçado da mamã, porque a minha mãe sempre governou mais pelo autoritarismo do que pelos afectos, o que não evitava as nossas asneiras.
Quanto mais eu fazia por lhe agradar nos resultados dos meus estudos mais ela exigia, não desculpava qualquer falha nas notas.
Casei com 18 anos, estão a ver porquê, no 1ª ano da Faculdade.Até na escolha do Curso eu fui pressionada, gostaria de ter seguido Engenharia Química e fui parar a Germânicas, parecido não acham? Eu tirara iguais resultados em Letras e Ciências no antigo 7º Ano por isso nem admissão fiz à Faculdade de Letras, entrei logo pela nota do Liceu.
O Curso foi algo penoso de fazer e terminar porque entretanto tive as duas primeiras filhas e tinha de me dividir.Muitas lágrimas chorei por ter de faltar às aulas, por causa do pessoal doméstico falhar.Nessa altura não havia Infantários.
Mas o título deste post refere-se sobretudo à vida profissional.Entrei primeiro para o Estado na Fábrica Militar de Braço de Prata como Tradutora de Alemão e só 3 anos depois concorri a um Anúncio e fiquei nas 3 primeiros lugares entre 200 concorrentes para o ex-Banco de Angola, como Tradutora de Inglês,Alemão e Francês alèm do Serviço Bancário.
Em ambos os casos tenho de concluir que a minha cultura, facilidade de aprendizagem e ideias e sugestões pertinentes, sempre foram mal acolhidas pelos meus Superiores e Colegas.É preciso ver que na altura havia poucos Licenciados e eu era mulher ainda por cima.As invejas, as piadas , as represálias de pessoas com poucos estudos como eram as Chefias no Banco apanharam-me de surpresa e sem preparação para elas. O meu pai , grego de uma Ilha dominada durante anos pela Turquia tinha ideias mujito restritas sobre a liberdade das mulheres.Os rapazes eram persona non grata nas minhas amizades, só podia conviver com eles na sua ausência, digamos que eu sempre vivera numa redoma e não conhecia a maldade do Mundo. O meu 1º marido ,foi o meu 1º namorado a sério e casamos uns 6 meses depois de nos conhecermos pois ele era orfão de pais e vivia de favor com uma irmã casada.Ficamos a viver com a minha mãe, já que ele também estava na Faculdade de Medicina.Eu não sabia que as pessoas nem sempre são quem parecem, que podem ser amáves pela frente e fazerem-nos mal por detrás.
Não estava de todo preparada para a vida , a minha mãe, nem sabia fazê-lo, ficara sem mãe aos 12 anos.Do Banco só houve um Director que me deu valor, me ensinou ,confiou em mim ao dar-me trabalhos e funções de muita responsabilidade, de resto todos os outros só me tramaram a carreira e a vida, o que seria de esperar porque eu estava na altura num nível igual ao deles.
Sofri várias depressões na minha vida, e muitas delas resultantes da revolta e desalento que eu sentia por me boicotarem por eu ser melhor e não por eu ser pior. É nessa altura que entra em cena o pai das minhas 2 filhas mais novas, mas isso fica para outro post.
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