Já falei aqui de um outro Quarteto fabuloso-O Quarteto de Alexandria.
Este , com cenário diferente- A Índia nas vésperas da Independência e
transposto em 1971 de forma magistral para uma Série da Granada com 14 episódios.
Resolvi revê-la a semana passada e conclui que nestes 38 anos continua a ser interessante, actual em muitos aspectos e extremamente bem representada.Baseada na obra em 4 volumes de Paul Scott "The Raj Quartet" retrata a decadência do Império Britânico na Índia, durante a Segunda Guerra Mundial , o racismo dos ingleses, o ódio entre indús e muçulmanos e em primeiro plano uma série de figuras humanas muito credíveis e com percursos muito diversos.
Nos livros , com contínuos flashbacks,que o tornam algo confuso históricamente, tem-se a oportunidade de saber pormenores que na Série assentam mais na caracterização apurada, pelos actores ,das personagens que encarnam.O vilão da história e a dama de Companhia, respectivamente Tim Pigott-Smith e Dame Peggy Ashcroft foram laureados com vários prémios de interpretação, mas não detsoam do resto do elenco que é de 1ª linha.
Esta saga brilhante conta-nos a história de mulheres e homens lutando para se adaptarem às mudanças drásticas que enfrentam e é interessante verificar o que mudou e o que não mudou nos nossos dias.
Em relação à mania da superioridade dos ingleses, parece-me que pouco se alterou.Calculo que continuam a não ver com bons olhos misturas raciais, género cada macaco no seu galho- O problema de Harry Coomer educado em Inglaterra num colégio de elites, demasiado inglês para a Índia a que teve que se acomodar como Hari Kumar à força e o seu amor proibido por Daphne Manners da aristocracia local deve-se mais a uma característica comum às colónias e que até nas portugueses se verificou.Um Nativo era julgado sem Julgamento sobretudo se o polícia tinha menos estudos que o arguido.
Não era fácil arranjar quadros médios para a Índia, muitos menos casais que quisessem repatriar-se a menos que lhes acenassem com melhor vida.Para alèm da classe alta que ia por devoção, caso dos militares de alta-patente e respectivas famílias,muitos dos filhos já lá tinham nascido, os que apareciam eram os de classe média baixa, que não singravam na Metrópole, mas que na Índia tinham criados e boas casas e cujas mulheres se achavam superiores aos nativos, por muito educados que eles fossem,moralistas hipócritas que bisbilhotavam a vida da pseudo-sociedade que frequentavam.
Os jovens lá nascidos tinham outra maneira de ver as coisas.Distinguiam a educação ,mais que a posição social e tratavam bem os seus criados, respeitando-os e até estimando-os,mas tinham a noção que a Índia devia ficar para os indianos.Duas de heroínas usam farda, ajudando no esforço de guerra.Ambas tem em comum, um espírito aberto,leal e afectuoso.
Ao ler e ver estes comentários, recordei o que se passou em Angola e Moçambique.De um lado uma população muito mais iletrada, mas que disponha de regalias e criados que nunca teriam na Metrópole, doutro uma população mais influenciada pelos ingleses que não se misturava com os nativos.
Ao escrever sobre a Série fica sempre muito por dizer-uma fotografia deslumbrante, o exótico, a política dilacerante do tempo de Gandhi que levou ao massacre de milhares de indianos-indús contra muçulmanos, a criação da Índia e do Paquistão.
Fica-nos a ideia de uma Índia, em ordem(embora pela força),os erros de parte a parte, o fim duma era que não mais voltou.A Índia que aqui é retratada,nada tem a ver com a actual,mas dá para ver que os ingleses subestimaram a massa cinzenta dos indianos que se tem distinguido a nível da electrónica.Naquela altura,salvo raras excepções os indianos ou eram criados ou amas, jardineiros ou soldados rasos que serviram de carne para canhão nas guerras dos ingleses.Mas já é sabido que o se humano prefere a Liberdade mesmo com pobreza do que a escravidão com riqueza.
Recomendo os livros e sobretudo a Série pela sua beleza e pelo que certamente aprenderão sobre História e sobre o ser humano,qualquer que seja o País onde se encontra.