sábado, 20 de setembro de 2008

Efeméride- 19 de Setembro de 1969


Não queria deixar de escrever alguma coisa sobre esta data e da real importância que teve para mim. Dei por mim a pensar o que teria sido a minha vida se este dia tivesse terminado como habitualmente. Não tenho por hábito renegar o que correu bem ou mal na minha vida porque como atrás disse à minha neta, a vida é isto,avançar e recuar,ter alegrias e tristezas. Vou dar algumas luzes sobre o que se passou neste período especial da minha vida. O meu casamento já estava em processo de ruptura há algum tempo e já estava a correr o Processo Judicial de Separação oficial já que na altura não havia divórcio. Todos estes acontecimentos me tinham deixado numa profunda depressão que quase deu para o torto. Foi então que apareceu na minha vida o pai das minhas filhas mais novas.Conhecia -o de vista por ser primo direito do meu Chefe de Secção na altura , sabia que estava separado, pelo que aceitei o seu convite para ir ao Cinema e conversar.Nunca me esqueci do nome do filme"Il dottore de la Mutua"(O Dr do Centro de Saúde) uma comédia italiana. No seguimento das nossas conversas,ele também estava separado e tinha 3 filhos (eu 4 na altura) ,houve inegávelmente uma enorme atracção mútua, mas nunca pensei que ele seria o Tal.Na altura verifiquei que era uma pessoa educada ,de boa família,mais velho que eu 10 anos,que entrara para ao Banco em Angola com 17 anos sem terminar os estudos por o pai ter casado outra vez e lhe ter dado 2 irmãs e ele se sentir "pesado" financeiramente. Era uma pessoa muito misteriosa,muito fechada em si(era Caranguejo de Signo) e só perto da morte consegui que ele se abrisse um pouco, mas sabia que viera para Portugal depois de um desastre deixando todos os bens,( a mulher é que tinha um pai rico), com os 3 filhos. Via-se que passava dificuldades, dado que a ex-mulher não trabalhava ,pelas camisas coçadas mas impecávelmente limpas e os sapatos gastos mas engraxados. Fez-me pois confusão o seu súbito interesse por mim e a forma como insistia em pagar as despesas.Mais tarde disse-me que se impressionou pelo facto de eu ter 30 anos ,ser tão bonita e com 4 filhos estar já separada. Hoje que sei os entretantos que na altura não me contou e só vim a saber depois do nascimento da nossa primeira filha em comum em 1974,penso que ele se deixou levar por um sentimento que na altura não estava em condições de assumir, pois havia outra pessoa a quem ele estava ligado por estúpidos preconceitos , de que nunca se conseguiu livrar totalmente e que foi a causa da nossa separação em 1990, separação que durou 10 anos e terminou em 2000 quando eu o contactei por altura da Licenciatura da nossa filha mais nova. A data de 19/9/1969, representa o nosso casamento, evoca a primeira vez que estivemos fisicamente juntos, e em que constatámos uma enorme compatibilidade entre nós, para bem e para mal.Quantas vezes em 20 anos nos separávamos zangados para acabarmos nos braços um do outro.Não conseguíamos resistir à atracção um pelo outro.Essa atracção manteve-se viva até à sua morte. É uma coisa que não se consegue explicar-existiu.Talvez que com o decorrer dos anos e com a diminuição acentuada das suas capacidades físicas ele se tenha esquecido que eu não tinha só essa faceta mas outras.Dizia-me ele nos últimos tempos,espantado que eu era uma companheira muito cúmplice,o género que ele julgava só encontrar nos homens.O convívio progressivo com pessoas idosas e ainda por cima retrógadas quando nos afastámos ,tornou-o irreconhecível quando o voltei a encontrar. Fechado a 100%,tratado como um incapaz pelos filhos,foi-me difícil, sobretudo porque eu sabia que ele estava condenado, voltar a dar-lhe a alegria de viver e de lutar contra a doença.Eu ria pela frente mas chorava às escondidas.Custou-me muito ver como um homem fraco como ele pode ser manipulado uma vida inteira por pessoas ambiciosas e não ver.Como é que se pode incutir numa pessoa que a mentira é lícita e chantagear-se essa pessoa com problemas morais a ponto de lhe tirar o gosto pela vida.Tudo isso eu vi com clareza quando ele voltou a viver comigo nos últimos anos da sua vida.Um homem ,teoricamente sem a tutela do pai nem da mãe e carente é facilmente manobrável se não houver quem lhe estabeleça os limites do que se pode ou não fazer e não me parece que tenha a ver com a religião, mas com a Moral com letra grande.Foi isso que lhe faltou e penitencio-me por não ter compreendido a tempo que a forte era eu e não ele e que ele precisava duma mulher forte que o guiasse e que a minha insegurança o fazia procurar noutro lado a força de que ele precisava.

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