Sou uma das felizardas que viveu intensamente o 25 de Abril. Vou tentar lembrar-me como o vivi. Nessa altura tinha 35 anos e estava grávida da minha filha Ana.Trabalhava no ex-Banco de Angola como o pai delas na Rua do Comércio e naquela manhã como de habitual eu e o C. dirigimo-nos de carro para o trabalho. Mas não houve trabalho, os tanques e Chaimites do Exército dominavam a Baixa e havia-os estacionados mesmo ao pé do Banco, já que os Ministérios eram nossos vizinhos e fomos mandados regressar a casa.
O C. sempre foi muito situacionista, mais por ignorância política do que por convicção.
Pela minha parte , embora o meu avô materno tivesse participado na Fundação da República em 1910 e fosse perto das correntes socialistas da altura, eu desconhecia que o jornal "República" que ele lia com uma lupa(tinha cataratas) era da oposição e a minha cultura política era zero, mas a minha maneira de ser um pouco rebelde e o grande amor que sempre tive à Liberdade, qualquer uma, fez com que eu acolhesse com simpatia o que se estava a passar.
Em casa, seguia-se o desenrolar dos acontecimentos passo a passo e foi com emoção que escutámos a "Junta de Salvação Nacional" proclamar a queda do regime de Marcelo Caetano, que sendo um Professor Universário muito estimado no meio académico, não soube ou não teve força para se opor aos ultras do seu Partido Único.
A generalidade do povo português não tinha Partido a não ser os Comunistas que viviam na clandestinidade, mas no meio bancário havia se não uma consciência política pelo menos uma Sindical.Os Bancários desde sempre lutaram contra o espírito corporativo que lhes pretendiam impor e pelos direitos dos trabalhadores.
Demorei algum tempo a escolher o Partido mas em Janeiro de 1975, filiei-me no Partido Socialista aonde continuo até agora.
Se tenho tido algumas dúvidas? Sim, mas eu ligo mais às ideias que aos políticos e no PS nunca senti que houvesse falta de liberdade.Sempre houve pessoas nele, umas mais à direita,outras mais à esquerda e correntes de opinião diferentes e todos convivemos bem, salvo raras excepções, eu mesma nem sempre estou com a corrente dominante e nem sempre voto nela mas ao tempo do 25 de Abril toda a gente queria fazer qualquer coisa pelo país e pelas instituições. Eu mesma era dirigente de Secção e passava parte do meu tempo livre lá Essa Secção abrangia na altura os militantes jornalistas já que os Jornais eram quase todos no Bairro Alto.Faziam-se muitas reuniões em que participavam figuras importantes da cultura, da Economia. e da Banca.Havia vida na Secção -convivia-se velhos e novos ,passeava-se em conjunto, um pouco como actualmente os Clubes de Bairro.Era mesmo muito giro.
Paralelamente tinha-se actividade Sindical nos Locais de Trabalho e começou-se a zelar pelos direitos dos trabalhadores.No meu caso pertencendo ao Sindicato dos Bancários um pioneiro nessa lutas,cedo comecei a enveredar por essa área, como Delegada Sindical e durante 2 anos na Comissão de Trabalhadores do Banco de Angola e posteriormente na da União de Bancos Portugueses quando da fusão.
O que aprendi? Muito a todos os níveis.Os jovens tem tendência a menosprezar esse trabalho e até mesmo membros da Administração perguntavam-me porquê eu com uma Licenciatura.
Costumava responder que eu estava onde a Empresa mais precisava de mim e numa altura de fusão em que 3 Bancos se juntam num novo, o factor humano tem de ser respeitado, quando há 3 pessoas para cada cargo(3 Bancos) e excesso de pessoal.
Aliás nessa altura não era a única licenciada, havia-os em Direito e Economia comigo na Comissão.
Aprendi também a expor ideias em voz alta a uma Administração, a trabalhar em equipa,com pessoas doutros partidos e a relativizar as coisas, o que foi muito importante para mim na minha vida pessoal.
Mas voltando ao 25 de Abril, lembra-me da Ana na Secção a gatinhar de fralda no quintal da moradia, da colagem dos cartazes feita pela minha filha mais velha com o António Costa um miúdo 3 anos mais novo do que ela.
Lembro-me dos ataques com gás lacrimogénio ao Jornal "República "em que apareceram os jovens da JS todos a chorar na Secção, dos ataques às bandeiras fora dos carros por militantes da extrema-esquerda, lembra-me do célebre discurso do Pinheiro de Azevedo em pleno Terreiro do Paço e do ataque do Copcon aos manifestantes e à minha fuga para o Chiado com filhas e sobrinhas adolescentes.Do primeiro 1º de Maio falarei noutro post.Lembro-me dum Comício do PS no Coliseu em que cantava a Lena d'Água e do desaparecimento da minha filha Ana com os seus 6 anos e como eu e o pai a encontrámos muito descansada a falar com a cantora nos bastidores já que era uma grande fã dela e do Mário Soares no Comício da Alameda,lembro-me 3 anos mais tarde do Congresso da Internacional Socialista no Hotel Ritz, realizado à porta fechada, em que conheci pessoalmente políticos como o Willy Brandt,o Olaf Palme, o Felipe Gonzalez e Bettino Craxi para quem servi de intérprete, estava nessa altura grávida da minha filha mais nova.
Lembro-me duma época em que na casa dos 30 anos ainda pensava que ía mudar o Mundo.
Hoje ainda não desisti, mas tenho muitas dúvidas e preguiça de me envolver outra vez na política.
Mas que foi lindo, foi, e que deixou saudades, muitas.
O C. sempre foi muito situacionista, mais por ignorância política do que por convicção.
Pela minha parte , embora o meu avô materno tivesse participado na Fundação da República em 1910 e fosse perto das correntes socialistas da altura, eu desconhecia que o jornal "República" que ele lia com uma lupa(tinha cataratas) era da oposição e a minha cultura política era zero, mas a minha maneira de ser um pouco rebelde e o grande amor que sempre tive à Liberdade, qualquer uma, fez com que eu acolhesse com simpatia o que se estava a passar.
Em casa, seguia-se o desenrolar dos acontecimentos passo a passo e foi com emoção que escutámos a "Junta de Salvação Nacional" proclamar a queda do regime de Marcelo Caetano, que sendo um Professor Universário muito estimado no meio académico, não soube ou não teve força para se opor aos ultras do seu Partido Único.
A generalidade do povo português não tinha Partido a não ser os Comunistas que viviam na clandestinidade, mas no meio bancário havia se não uma consciência política pelo menos uma Sindical.Os Bancários desde sempre lutaram contra o espírito corporativo que lhes pretendiam impor e pelos direitos dos trabalhadores.
Demorei algum tempo a escolher o Partido mas em Janeiro de 1975, filiei-me no Partido Socialista aonde continuo até agora.
Se tenho tido algumas dúvidas? Sim, mas eu ligo mais às ideias que aos políticos e no PS nunca senti que houvesse falta de liberdade.Sempre houve pessoas nele, umas mais à direita,outras mais à esquerda e correntes de opinião diferentes e todos convivemos bem, salvo raras excepções, eu mesma nem sempre estou com a corrente dominante e nem sempre voto nela mas ao tempo do 25 de Abril toda a gente queria fazer qualquer coisa pelo país e pelas instituições. Eu mesma era dirigente de Secção e passava parte do meu tempo livre lá Essa Secção abrangia na altura os militantes jornalistas já que os Jornais eram quase todos no Bairro Alto.Faziam-se muitas reuniões em que participavam figuras importantes da cultura, da Economia. e da Banca.Havia vida na Secção -convivia-se velhos e novos ,passeava-se em conjunto, um pouco como actualmente os Clubes de Bairro.Era mesmo muito giro.
Paralelamente tinha-se actividade Sindical nos Locais de Trabalho e começou-se a zelar pelos direitos dos trabalhadores.No meu caso pertencendo ao Sindicato dos Bancários um pioneiro nessa lutas,cedo comecei a enveredar por essa área, como Delegada Sindical e durante 2 anos na Comissão de Trabalhadores do Banco de Angola e posteriormente na da União de Bancos Portugueses quando da fusão.
O que aprendi? Muito a todos os níveis.Os jovens tem tendência a menosprezar esse trabalho e até mesmo membros da Administração perguntavam-me porquê eu com uma Licenciatura.
Costumava responder que eu estava onde a Empresa mais precisava de mim e numa altura de fusão em que 3 Bancos se juntam num novo, o factor humano tem de ser respeitado, quando há 3 pessoas para cada cargo(3 Bancos) e excesso de pessoal.
Aliás nessa altura não era a única licenciada, havia-os em Direito e Economia comigo na Comissão.
Aprendi também a expor ideias em voz alta a uma Administração, a trabalhar em equipa,com pessoas doutros partidos e a relativizar as coisas, o que foi muito importante para mim na minha vida pessoal.
Mas voltando ao 25 de Abril, lembra-me da Ana na Secção a gatinhar de fralda no quintal da moradia, da colagem dos cartazes feita pela minha filha mais velha com o António Costa um miúdo 3 anos mais novo do que ela.
Lembro-me dos ataques com gás lacrimogénio ao Jornal "República "em que apareceram os jovens da JS todos a chorar na Secção, dos ataques às bandeiras fora dos carros por militantes da extrema-esquerda, lembra-me do célebre discurso do Pinheiro de Azevedo em pleno Terreiro do Paço e do ataque do Copcon aos manifestantes e à minha fuga para o Chiado com filhas e sobrinhas adolescentes.Do primeiro 1º de Maio falarei noutro post.Lembro-me dum Comício do PS no Coliseu em que cantava a Lena d'Água e do desaparecimento da minha filha Ana com os seus 6 anos e como eu e o pai a encontrámos muito descansada a falar com a cantora nos bastidores já que era uma grande fã dela e do Mário Soares no Comício da Alameda,lembro-me 3 anos mais tarde do Congresso da Internacional Socialista no Hotel Ritz, realizado à porta fechada, em que conheci pessoalmente políticos como o Willy Brandt,o Olaf Palme, o Felipe Gonzalez e Bettino Craxi para quem servi de intérprete, estava nessa altura grávida da minha filha mais nova.
Lembro-me duma época em que na casa dos 30 anos ainda pensava que ía mudar o Mundo.
Hoje ainda não desisti, mas tenho muitas dúvidas e preguiça de me envolver outra vez na política.
Mas que foi lindo, foi, e que deixou saudades, muitas.